O abismo que há entre o cristianismo moderno e a espiritualidade da Bíblia pode ser visto (...) no nosso seletivo uso dos Salmos, que era o hinário do povo de Israel e da Igreja do Novo Testamento. Os Salmos não apenas refletem toda experiência humana (p. ex.: confusão, raiva, medo, ansiedade, depressão, alegria incontida), mas também nos forçam a parar de fingir que tudo esteja bem com o mundo. Os salmos de lamentação (por exemplo, os salmos 10, 13, 35 e 86) são veementes queixas diante de Deus em relação às contradições existentes entre suas promessas e a realidade pela qual o povo passa.
Esses salmos raramente são usados no culto cristão hoje em dia. Contudo, esses salmos são atos de uma fé corajosa: corajosa, porque eles insistem em que temos que enfrentar o mundo como ele é, e que temos que abandonar toda ostentação infantil; mas também de fé, porque eles partem da convicção de que não existe assunto proibido, quando se trata de termos uma conversa com Deus. Reter daquela conversa com Deus qualquer coisa da experiência humana, inclusive a escuridão de uma oração não respondida e os aspectos negativos da vida, é negar a soberania de Deus sobre toda a vida.
Assim, paradoxalmente, são aqueles que reprimem suas dúvidas com uma série de cânticos alegres que bem podem estar sendo incrédulos: pela recusa de crer que Deus pode cuidar de toda a raiva que eles têm. Assim, os salmos de protesto constituem uma poderosa repreensão ao que passa por fé e louvor na maioria dos grupos cristãos de hoje. O que é irônico é que a vida moderna talvez nos exponha a mais confusão e dor do que qualquer coisa do mundo do salmista; e contudo ignoramos exatamente aquelas orações que vêm de encontro a tal senso de desorientação. Não é de admirar que muito do ensino atual quanto à fé não seja diferente do ‘pensamento positivo’ dos gurus modernos da administração, conquanto vestido com uma roupagem pseudobíblica. A fé bíblica, entretanto, é exatamente o contrário.
Vinoth Ramachandra
Esses salmos raramente são usados no culto cristão hoje em dia. Contudo, esses salmos são atos de uma fé corajosa: corajosa, porque eles insistem em que temos que enfrentar o mundo como ele é, e que temos que abandonar toda ostentação infantil; mas também de fé, porque eles partem da convicção de que não existe assunto proibido, quando se trata de termos uma conversa com Deus. Reter daquela conversa com Deus qualquer coisa da experiência humana, inclusive a escuridão de uma oração não respondida e os aspectos negativos da vida, é negar a soberania de Deus sobre toda a vida.
Assim, paradoxalmente, são aqueles que reprimem suas dúvidas com uma série de cânticos alegres que bem podem estar sendo incrédulos: pela recusa de crer que Deus pode cuidar de toda a raiva que eles têm. Assim, os salmos de protesto constituem uma poderosa repreensão ao que passa por fé e louvor na maioria dos grupos cristãos de hoje. O que é irônico é que a vida moderna talvez nos exponha a mais confusão e dor do que qualquer coisa do mundo do salmista; e contudo ignoramos exatamente aquelas orações que vêm de encontro a tal senso de desorientação. Não é de admirar que muito do ensino atual quanto à fé não seja diferente do ‘pensamento positivo’ dos gurus modernos da administração, conquanto vestido com uma roupagem pseudobíblica. A fé bíblica, entretanto, é exatamente o contrário.
Vinoth Ramachandra
A falência dos deuses; a idolatria moderna e a missão cristã (São Paulo: ABU, 2000), p. 60-61.
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